Maria Corina Machado ganha Prêmio Nobel da Paz 2025
Nobel da Paz: Entre a retórica da paz e os ventos da política
O Prêmio Nobel da Paz, criado para homenagear aqueles que promovem a fraternidade entre as nações e a resolução pacífica de conflitos, há muito tempo deixou de ser apenas um símbolo de pacificação. Ao longo das décadas, o prêmio tem oscilado entre homenagens a ativistas humanitários e escolhas que levantam sérias questões sobre seus critérios.
Entre os casos mais controversos estão os de Henry Kissinger (1973), laureado mesmo após seu envolvimento em operações militares no Vietnã e no Chile; Barack Obama (2009), premiado no início de seu mandato, enquanto os EUA mantinham operações militares em múltiplos países; e a ausência de Mahatma Gandhi, que nunca recebeu o prêmio apesar de ser o ícone mundial da resistência não violenta.
Essas decisões revelam uma tendência: o Nobel da Paz muitas vezes reconhece figuras que representam mudanças políticas ou resistências simbólicas, mesmo que envolvam apoio a intervenções externas ou estejam inseridas em contextos de conflito.
Corina Machado: resistência em tempos sombrios
A escolha de María Corina Machado como laureada em 2025 segue essa linha. Líder da oposição venezuelana, Corina tornou-se símbolo de resistência contra o regime de Nicolás Maduro. Impedida de disputar as eleições presidenciais de 2024, vive na clandestinidade, mas permanece ativa, articulando forças democráticas e inspirando milhões de venezuelanos.
Maria Corina Machado – Nobel da Paz 2025.
Sua trajetória é marcada por coragem e coerência, mas também por complexidades. Em momentos críticos, Corina e aliados chegaram a apoiar pressões internacionais — inclusive militares — como forma de restaurar a democracia no país. A presença de forças estrangeiras, especialmente dos Estados Unidos, nas águas venezuelanas, levanta dilemas sobre soberania e intervenção.
Ainda assim, o Comitê Norueguês do Nobel destacou sua “luta incansável pela liberdade e pelos direitos humanos”, reconhecendo que, em contextos extremos, a paz pode se manifestar como resistência civil diante da opressão.
Reconhecimento merecido
Apesar das contradições históricas do Nobel da Paz, a premiação de María Corina Machado representa um momento de esperança para milhões de venezuelanos. Sua coragem diante da perseguição, sua permanência no país mesmo sob risco, e sua capacidade de unir uma oposição fragmentada são conquistas que transcendem a política e tocam o espírito humano.
Em tempos em que a paz parece um ideal distante, reconhecer quem luta por ela — mesmo em meio ao conflito — é um gesto que carrega peso simbólico e histórico.
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