Milei publica mapa do Brasil como um conjunto de favelas
A nova disputa de narrativas na América Latina e o risco de isolamento do Brasil
A América Latina vive um momento de intensa disputa simbólica e geopolítica. Em meio a crises econômicas, realinhamentos diplomáticos e tensões ideológicas, narrativas externas — especialmente vindas dos Estados Unidos — têm ganhado força e influenciado a política regional. Ao mesmo tempo, lideranças locais, como o presidente argentino Javier Milei, amplificam discursos que colocam o Brasil em posição delicada, tanto no campo diplomático quanto na opinião pública internacional.
Execuções no mar e a crítica de juristas internacionais
Desde setembro de 2025, os Estados Unidos intensificaram uma política de ataques militares contra embarcações suspeitas de tráfico de drogas no Caribe e no Pacífico. Segundo levantamento da NPR citado pela LAist, ao menos 22 ataques foram realizados apenas em 2025, resultando em mais de 80 mortos. Já o registro consolidado na página da Wikipédia sobre as operações aponta 95 mortos, além de apenas duas pessoas capturadas vivas desde o início da ofensiva.
Esses números chamam atenção de juristas e organizações internacionais porque revelam um padrão: não há prisões, julgamentos ou tentativas de captura — apenas execuções sumárias. A Human Rights Watch classificou as ações como “execuções extrajudiciais” e pediu que outros países pressionem os EUA a interromper a prática, afirmando que governos parceiros podem se tornar cúmplices se permanecerem em silêncio.
A crítica central é que, mesmo em operações de combate ao narcotráfico, o direito internacional humanitário e os tratados de direitos humanos exigem proporcionalidade, tentativa de captura e respeito ao devido processo legal. A destruição de embarcações com todos os ocupantes a bordo, sem identificação prévia, sem tentativa de rendição e sem transparência sobre as investigações, viola esses princípios.
Apesar disso, o presidente Donald Trump tem defendido publicamente a política. Em discurso recente, afirmou que “cada barco que é atingido salva 25 mil vidas americanas” — uma justificativa que especialistas classificam como sem base empírica e que, segundo analistas, reforça uma narrativa de guerra total contra um inimigo difuso.
Trump, Milei e a política de condicionamento na Argentina
A influência dos EUA na política regional também se manifesta no campo econômico. Em outubro de 2025, Donald Trump recebeu Javier Milei na Casa Branca e condicionou publicamente o apoio financeiro à Argentina à permanência do presidente argentino no poder. Segundo reportagem do jornal argentino La Nación, Trump declarou: “Se ele perder, não seremos generosos”.
O pacote de ajuda discutido envolve US$ 20 bilhões em swap cambial, com possibilidade de expansão para até US$ 40 bilhões quando somados aportes privados e de fundos soberanos, segundo verificações do Factually.co. A intenção declarada é estabilizar a economia argentina e fortalecer o programa econômico de Milei.
Analistas apontam que esse tipo de declaração — condicionar ajuda financeira ao resultado eleitoral de outro país — é incomum na diplomacia internacional e pode ser interpretado como interferência política.
Milei e a escalada de hostilidade simbólica contra o Brasil
No plano regional, Javier Milei tem adotado uma postura abertamente confrontacional em relação ao Brasil. As tensões, que já vinham de declarações anteriores, ganharam novo capítulo em dezembro de 2025, quando o presidente argentino publicou em suas redes sociais uma imagem que retrata o Brasil como uma grande favela, enquanto a Argentina aparece como um país futurista e desenvolvido.
Segundo a imagem publicada pelo presidente argentido, Javier Milei, todos os países da América Latina, com governos de esquerda são uma grande favela. Já a Argentina e países governados por ideologia de direita, são evoluídos, modernos e em grande progresso.
A imagem, amplamente repercutida pela imprensa brasileira, mostra o continente dividido entre países governados pela esquerda — representados como áreas degradadas — e países governados pela direita — representados como polos de prosperidade.A repercussão foi imediata, com críticas de parlamentares e analistas brasileiros. Embora o governo brasileiro não tenha emitido resposta oficial até o momento, o gesto é visto como um ataque simbólico direto ao país e ao presidente Lula.
Impactos regionais: Mercosul enfraquecido, BRICS fortalecido
A postura de Milei tem efeitos concretos na integração regional. Desde sua posse, o presidente argentino tem adotado posições que fragilizam o Mercosul, incluindo críticas ao bloco e resistência a acordos comerciais. Isso contrasta com o movimento brasileiro de fortalecer alianças alternativas, como o BRICS, que ganhou novos membros e ampliou sua relevância geopolítica.
A combinação entre:
- ataques simbólicos ao Brasil,
- alinhamento automático da Argentina aos EUA,
- e a crescente militarização do discurso antidrogas norte-americano,
cria um ambiente de instabilidade diplomática na América do Sul.
O risco de uma narrativa que isola o Brasil
O conjunto desses fatos revela um cenário preocupante: uma narrativa internacional que tenta associar o Brasil a atraso, insegurança e incapacidade de governança, enquanto exalta governos alinhados aos EUA como exemplos de modernidade e ordem.
Essa narrativa é reforçada por:
- discursos de Trump que classificam países latino-americanos como parte do “terceiro mundo”;
- operações militares que tratam a região como zona de guerra;
- e publicações de Milei que caricaturam o Brasil de forma depreciativa.
Juristas internacionais alertam que, quando narrativas desse tipo ganham força, elas podem justificar políticas mais agressivas, interferências externas e isolamento diplomático.
O Brasil enfrenta hoje não apenas desafios econômicos e políticos internos, mas também uma disputa simbólica no cenário internacional. A combinação entre ações militares controversas dos EUA, condicionamentos políticos explícitos e ataques simbólicos vindos da Argentina cria um ambiente que exige atenção e resposta estratégica.
A disputa de narrativas não é apenas retórica: ela molda percepções, influencia políticas e pode redefinir alianças. Ignorar esse movimento seria permitir que outros definam o lugar do Brasil no mundo.
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