Brasileiros deixam de atender ligações desconhecidas diante da onda de chamadas falsas
Robôs, vozes artificiais e gravações criam desconfiança e dificultam até contatos legítimos
Nos últimos anos, milhões de brasileiros têm recebido ligações que caem logo após serem atendidas. Esse comportamento não é fruto de falhas técnicas, mas sim de sistemas automatizados de discagem, conhecidos como robocalls. O objetivo é confirmar que o número está ativo e que há alguém do outro lado da linha.
Especialistas alertam que, ao atender, o usuário fornece uma espécie de “prova de vida” para esses sistemas. Em alguns casos, até mesmo respostas simples como “sim” ou “não” podem ser gravadas e usadas indevidamente em fraudes, simulando consentimento em operações financeiras ou contratuais.
Outro recurso cada vez mais comum é o uso de vozes geradas por inteligência artificial ou gravações pré-programadas no início da chamada. O mecanismo funciona assim: uma voz cumprimenta ou faz uma pergunta simples, o usuário responde acreditando estar falando com uma pessoa, e só então a ligação é transferida para um atendente humano ou, em casos de fraude, para um golpista.
Recusar ou deixar tocar: faz diferença
A forma como o usuário reage à chamada influencia o valor que o número terá para esses sistemas:
- Atender confirma a presença humana e torna o número mais valioso para listas de telemarketing ou golpes.
- Recusar ou desligar sem atender indica que o número existe, mas não garante interação humana.
- Deixar tocar até cair sinaliza que o número pode estar ativo, mas não responsivo.
- Atender e permanecer em silêncio reduz o risco de gravação de voz, embora ainda confirme que há alguém presente.
O impacto na comunicação legítima
O excesso de chamadas indesejadas criou um efeito colateral grave: a desconfiança generalizada. Cada vez mais pessoas optam por não atender números desconhecidos, o que dificulta a vida de empresas e profissionais que precisam entrar em contato de forma legítima.
Indignação por tantas ligações recebidas durante o dia, que muitas vezes ficam mudas.
Consultórios médicos, entregadores, recrutadores e até órgãos públicos enfrentam resistência ao tentar falar com cidadãos. O telefone, antes visto como canal direto e confiável, perdeu espaço para aplicativos de mensagens, onde é possível verificar a identidade antes de responder.
Caminhos para recuperar a confiança
Algumas iniciativas já estão em andamento para tentar reverter esse cenário:
- Número verificado: projeto da Anatel que identifica chamadas de empresas registradas.
- Mensagens oficiais em aplicativos: empresas migraram para contas verificadas em plataformas como WhatsApp.
- Agendamento prévio: companhias avisam por mensagem que farão uma ligação em determinado horário.
- Bloqueadores de chamadas: recursos das operadoras e aplicativos ajudam a reduzir ligações suspeitas.
As chamadas que caem ou usam vozes artificiais não são meros erros: fazem parte de mecanismos para validar números e induzir respostas. A consequência é que atender números desconhecidos se tornou um risco, levando a uma mudança cultural no Brasil.
O desafio agora é equilibrar segurança e comunicação, criando mecanismos que permitam diferenciar contatos legítimos de tentativas de fraude.
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