ENEM: nota 1000 é pra quem?
A nota mil na redação do Exame Nacional do Ensino Médio é a maior pontuação possível. O Enem foi criado pelo MEC e lançado em 1998. Inicialmente sua principal finalidade era a de de avaliar a qualidade do ensino no país.
Mas hoje embora continue exercendo esta função, ele tornou-se mais relevante aos estudantes por substituir os tradicionais vestibulares, desde 2004, podendo garantir vagas no ensino superior.

Nota mil na redação do ENEM ainda é domínio da escola particular
A redação é considerada uma das provas mais importantes, pois além de poder acrescentar ou reduzir muito na pontuação final do exame, ela também mostra como o jovem consegue interpretar o texto ou proposta temática e sua capacidade de expressar-se sobre o tema usando a linguagem escrita. Mais que isto, com temas que buscam contexto sócio-político-econômico na atualidade, o estudante deve estar bem informado sobre o que ocorre no país e no mundo.
O problema é que a prova ENEM pode ser feita por todos os alunos do ensino médio, mesmo os que estão em escolas particulares. E dai o Estado passa a ser avaliado comparativamente e os resultados não são bons.
O tema da redação na última prova foi “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil.” Tema importante que daria ao estudante muitas oportunidades de abordá-lo desde um contexto histórico-social até um contexto sócio-político. E sim, muitos foram os estudantes que deram conta do tema bom brilhantismo. Pois é inquestionável a capacidade de nossos jovens em aprender mesmo quando as condições não são ideais.
O Enem 2023 recebeu mais de quatro milhões de inscrições, mas apenas 2,7 milhões de alunos fizeram a prova. As notas médias foram de 516 em linguagens, 522 em ciências humanas, 497 em ciências da natureza e 534 em matemática. Na redação, a nota média foi 641. Sessenta estudantes tiraram a nota 1000, a máxima. Mas apenas 4 deles vieram da escolas públicas, ainda que 46,7% dos 2,7 milhões de participantes da prova fossem da rede pública.
O governo está fazendo de tudo para que a educação pública melhore. Exemplo disso é a criação do programa PÉ DE MEIA lançado recentemente. Onde o governo passará a pagar para o aluno permanecer estudando.
Mas o programa tem sido encarado muito mais como um programa de distribuição de renda do que um programa real de incentivo a educação.
Outra mudança recente na história da educação brasileira é a militarização das escolas. A falta de disciplina, grande falha na estrutura gerencial dos governos, abriu portas, diante do pretexto de colocar ordem em sala, para a entrada de militares nestas escolas. Professores, gestores, pedagogos e demais profissionais formados para a educação, obedecem ordens, assim como os alunos.
E a tese de que o uso da força, através de normas proibitivas, confisco de propriedade e punições continua a fazer fila no modelo educacional brasileiro e encontra apoio na comunidade. A recente proibição de uso de celulares em ambiente escolar da rede pública do Rio de Janeiro é o perfeito exemplo de que a falha educacional leva a um cenário onde a truculência na educação ganha espaço.
Todos sabemos que a educação brasileira, em escolas públicas, carece de muitas coisas, especialmente de recursos financeiros e humanos. Mas a política educacional deste país foi esculhambada recentemente. Depois de colocar uma geração de jovens em um “novo modelo de ensino médio” que afastou todos da compreensão da vida pelo viés das ciências humanas (resultado colhido nas notas da redação), agora o país simplesmente “muda de ideia” e questiona o novo modelo de ensino médio e aprova novas diretrizes educacionais. O ensino no Brasil virou um laboratório para testar ideias de governantes e ideologias políticas. Não há projeto de futuro, não há projeto de longo prazo. O que temos é improviso.
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