Trump e o Brasil Polarizado: Tarifas, Cartas e a Estratégia de Dividir para Conquistar
A política externa de Donald Trump segue uma lógica clássica de poder: dividir para conquistar. Ao mirar o Brasil com tarifas agressivas e uma carta provocativa a Jair Bolsonaro, Trump não apenas interfere nas relações comerciais — ele explora a polarização política brasileira como ferramenta de pressão. Mas os brasileiros parecem ter percebido essa jogada: a mais recente pesquisa Genial/Quaest mostra uma virada na popularidade do governo Lula, justamente no momento em que ele enfrenta a crise provocada por Trump.
Polarização como ponto de entrada
O Brasil vive uma divisão profunda entre lulistas e bolsonaristas. Essa rivalidade extrapola o campo político e enfraquece a capacidade do país de reagir de forma unificada a pressões externas. Trump se aproveita dessa fragmentação: quanto mais dividido o Brasil, menor sua força diplomática e econômica.
A carta e as tarifas: provocação calculada
A tarifa de 50% imposta por Trump aos produtos brasileiros, anunciada em 9 de julho, foi acompanhada por uma carta pública a Bolsonaro. Nela, o ex-presidente americano critica o governo Lula, elogia Bolsonaro e questiona o sistema judiciário brasileiro. A medida não tem justificativa econômica sólida — os EUA mantêm superávit comercial com o Brasil há mais de uma década. Isso indica que o objetivo é político: desestabilizar o governo Lula e favorecer narrativas bolsonaristas.
Bolsonaro como peão, não como parceiro
Apesar da comunicação direta com Bolsonaro, Trump não demonstra preocupação genuína com o aliado. Seu foco é o Brasil como um todo — ou melhor, como um país dividido. Ao reforçar o bolsonarismo, ele aumenta a pressão sobre Lula, que enfrenta dificuldades para construir consenso nacional. A carta e as tarifas são movimentos táticos, não gestos diplomáticos.
A percepção popular e a virada nas pesquisas
A estratégia de Trump, no entanto, não passou despercebida. Segundo a pesquisa Genial/Quaest divulgada em 17 de julho, 72% dos brasileiros acreditam que Trump errou ao impor o tarifaço, e 79% acham que as tarifas vão prejudicar a vida da população. Entre os eleitores sem posicionamento político, 77% condenam a medida — e até entre os bolsonaristas, 48% reconhecem o erro.
Esse sentimento se refletiu diretamente na popularidade do governo Lula: 43% aprovam o governo, uma alta de 3 pontos em relação a junho. 53% desaprovam, uma queda de 4 pontos. Lula lidera todos os cenários de primeiro turno para 2026 e venceria Bolsonaro e outros adversários em um eventual segundo turno, exceto Tarcísio de Freitas, com quem empata.
A virada ocorre justamente no momento em que o governo lida com as provocações de Trump, reforçando a imagem de Lula como defensor da soberania nacional.

Dividir para conquistar é a estratégia de Trump.
O exemplo da China: união como escudo
A China, alvo de tarifas inclusive maiores que as impostas ao Brasil por parte de Trump, respondeu com firmeza e unidade. O governo chinês impôs contramedidas calibradas e denunciou publicamente a prática americana como intimidação unilateral. Essa resposta coordenada forçou Washington a negociar, resultando em uma redução mútua das tarifas em maio. É claro que a China possui uma maior capacidade econômica que o Brasil, mas a coesão interna chinesa foi decisiva — algo que falta ao Brasil neste momento.
Trump não precisa conquistar o Brasil — basta mantê-lo dividido. Cada tarifa, cada declaração e cada provocação se convertem em vantagem para os Estados Unidos, sem resistência unificada. Mas os dados mostram que os brasileiros estão começando a enxergar essa estratégia. A virada nas pesquisas pode ser o primeiro sinal de que a tática de dividir para conquistar está sendo desafiada — e que a união nacional, ainda que incipiente, pode se tornar um escudo contra interferências externas.
O garfo
Donald Trump fez um lance típico de xadrez político: colocou o Brasil numa posição em que qualquer movimento custa caro. Ao apoiar abertamente Jair Bolsonaro e impor tarifas de 50%, criou um garfo — ou seja, um dilema duplo. Se o país continuar dividido, enfraquece sua capacidade de reação e Trump sai ganhando. Se ceder e negociar, também cede soberania e abre espaço para a influência direta dos Estados Unidos. E se Bolsonaro voltar ao poder, a dívida simbólica com Washington se torna inevitável. Mas nem todo garfo termina em xeque. Uma saída possível é romper com a lógica imposta e atacar o tabuleiro com coesão e estratégia nacional — porque mesmo em jogo apertado, quem muda o ritmo da partida pode virar o resultado.
Contato
- Atendimento
- (41) 999-555-006
-
Av. do Batel, 1750 – S215
Curitiba – PR