Apagão em São Paulo expõe fragilidades da Enel e limites das decisões judiciais
Quatro dias após a ventania histórica que atingiu a região metropolitana de São Paulo, cerca de 19 mil famílias permanecem sem energia elétrica, mesmo após a Enel ter prometido que o fornecimento seria totalmente restabelecido até o fim do domingo. A persistência do apagão, apesar de uma liminar judicial determinando a normalização imediata do serviço, escancara não apenas a vulnerabilidade da infraestrutura elétrica, mas também os limites práticos das decisões judiciais quando confrontadas com problemas estruturais e operacionais.
Segundo dados divulgados pela própria concessionária, 19.014 imóveis ainda estavam sem luz na manhã de segunda-feira, 15 de dezembro Brasil 247 Brasil 247. Em toda a Grande São Paulo, o número ultrapassava 27 mil unidades sem fornecimento, aproximando-se da média de interrupções em dias normais, mas ainda representando um contingente significativo de consumidores afetados G1.
A crise teve início após a passagem de um ciclone extratropical, que provocou rajadas de vento superiores a 70 km/h e derrubou árvores, postes e linhas de transmissão. A Enel classificou o evento como um dos mais severos desde o início das medições do Inmet, destacando que a sequência prolongada de ventos dificultou o trabalho das equipes de campo Terra.
No entanto, a justificativa climática não tem sido suficiente para conter a insatisfação de autoridades e consumidores. O governo federal afirmou que não tolerará falhas reiteradas e que a concessionária pode até perder a concessão caso não cumpra suas obrigações contratuais G1. A pressão política se intensificou à medida que o apagão avançava para o quinto dia, afetando desde pequenos comércios até famílias que dependem de equipamentos elétricos para cuidados de saúde.
A situação também reacendeu o debate sobre a capacidade operacional da Enel, que já vinha sendo alvo de críticas por demora em atendimentos e falta de investimentos adequados na rede. Em episódios anteriores, a concessionária foi acusada de reduzir equipes e priorizar dividendos, em detrimento da manutenção preventiva — um ponto que agora volta ao centro da discussão pública.
A liminar judicial, concedida no sábado, determinava que a empresa restabelecesse o fornecimento de energia em até 24 horas, sob pena de multa. No entanto, o descumprimento da ordem evidencia um aspecto frequentemente ignorado no debate público: decisões judiciais não têm o poder de reconstruir redes elétricas, remover árvores caídas ou substituir transformadores danificados. A liminar pode impor pressão, mas não resolve gargalos técnicos, logísticos e estruturais.
Equipe ENEL tenta restabelecer energia.
Esse episódio reforça a necessidade de discutir a governança do setor elétrico, especialmente em grandes centros urbanos. A dependência de concessionárias privadas, aliada à falta de mecanismos eficazes de fiscalização contínua, cria um ambiente em que falhas se acumulam até que eventos extremos — cada vez mais frequentes devido às mudanças climáticas — exponham fragilidades que já estavam presentes.
Para os consumidores, o impacto vai além do desconforto. Perdas de alimentos, interrupção de atividades profissionais, riscos à saúde e insegurança urbana são consequências diretas de longos períodos sem energia. Em bairros periféricos, onde a presença do Estado já é limitada, a falta de luz agrava vulnerabilidades e amplia desigualdades.
Enquanto a Enel promete normalizar o serviço “nos próximos dias” G1, cresce a pressão por responsabilização. O Ministério de Minas e Energia monitora a situação e avalia medidas administrativas. A Assembleia Legislativa de São Paulo discute a abertura de uma CPI. E o Ministério Público estuda ações civis públicas para apurar eventuais omissões.
O apagão de dezembro de 2025 se torna, assim, mais do que um evento climático: é um retrato da fragilidade de uma infraestrutura essencial e da necessidade urgente de repensar modelos de concessão, fiscalização e investimento. E, sobretudo, um lembrete de que nem tudo se resolve com uma liminar judicial — especialmente quando o problema é estrutural, acumulado e agravado por anos de decisões equivocadas.
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