COP30: O palco da Amazônia e o vazio das promessas
A COP30, sediada em Belém, deveria ser um marco histórico. Um momento em que o Brasil, guardião da maior floresta tropical do planeta, reafirmasse seu papel como protagonista na luta contra a crise climática. Mas o que se desenha é um retrato desconcertante: líderes ausentes, infraestrutura precária, promessas frágeis e uma floresta que, embora simbólica, parece ter sido usada mais como cenário do que como prioridade.
A escolha de Belém, embora carregada de intenção política e simbólica, revelou um despreparo logístico que comprometeu a credibilidade do evento.
A cidade, sem estrutura adequada para receber dezenas de chefes de Estado, viu seus preços de hospedagem dispararem, afastando participantes e expondo uma realidade que contradiz o discurso de inclusão e sustentabilidade.
A Amazônia, já saturada de visibilidade internacional, foi apresentada ao mundo por uma lente distorcida — não como potência ambiental, mas como região esquecida pelo próprio país que a exibe.
Mais grave, porém, é o padrão que se repete: encontros climáticos que se multiplicam, enquanto os resultados se esvaziam. Metas são anunciadas com pompa, mas burladas com facilidade. Líderes posam para fotos, assinam compromissos e, ao deixarem o poder, levam consigo qualquer vestígio de responsabilidade.
A COP se transforma, assim, em um ritual diplomático onde o clima é pano de fundo para negociações paralelas, acordos comerciais e disputas geopolíticas travadas nos bastidores.
Na COP30, cerca de 190 países confirmaram presença, mas menos de 60 líderes estarão fisicamente em Belém.
Lula e sua comitiva chegam a COP30
Entre as ausências mais notáveis estão:
- Xi Jinping, presidente da China, maior emissor de gases de efeito estufa do mundo.
- Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, terceiro maior emissor global.
- Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, que boicotou o evento e está retirando formalmente o país do Acordo de Paris.
Essas ausências enfraquecem o impacto político da cúpula e comprometem a capacidade de gerar consensos globais. Enquanto isso, o Brasil, anfitrião do evento, reduziu sua meta de curto prazo para o fundo verde climático de US$ 125 bilhões, e ainda luta para viabilizar o financiamento da proteção da floresta tropical — uma das bandeiras centrais do presidente Lula.
A União Europeia, por outro lado, anunciou um compromisso de reduzir suas emissões em pelo menos 66,25% até 2035, sinalizando que, apesar do recuo de potências como os EUA, há blocos que ainda tratam a crise climática como prioridade estratégica.
O Brasil vive um paradoxo. Quer ser referência ambiental, mas não investe na infraestrutura mínima para sustentar esse papel. Quer liderar o debate climático, mas flexibiliza metas e reduz ambições. Quer mostrar a Amazônia ao mundo, mas não garante dignidade à população que vive nela. A COP30, então, não é apenas um evento — é um espelho. Um reflexo do que somos e do que fingimos ser.
Se há algo que a COP30 pode representar de verdade, é a urgência de romper com esse ciclo. De transformar encontros em compromissos vinculantes, discursos em políticas públicas, e visibilidade em responsabilidade. O Brasil tem tudo para ser um líder climático — mas precisa decidir se quer ser protagonista de verdade ou apenas figurante de luxo em uma peça que se repete há décadas.
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