Cármen Lúcia firma maioria no STF para condenar Bolsonaro por organização criminosa
Em um dos julgamentos mais emblemáticos da história recente do Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra Cármen Lúcia proferiu nesta quinta-feira (11) o voto que consolidou a maioria da Primeira Turma pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus por organização criminosa. A decisão marca um ponto de inflexão na relação entre o Judiciário e o bolsonarismo, com implicações profundas para o cenário político nacional.
O contexto da acusação
Bolsonaro e seus aliados foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por cinco crimes: tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. A acusação sustenta que o grupo articulou uma trama golpista para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, vencedor das eleições de 2022.
A denúncia inclui provas como a chamada “minuta do golpe”, reuniões com embaixadores em que Bolsonaro atacou o sistema eleitoral, e o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que cogitava ações violentas contra autoridades.
O voto de Cármen Lúcia
Em seu voto, Cármen Lúcia afirmou que houve “prova cabal” da existência de uma organização criminosa liderada por Bolsonaro, com o objetivo de minar as instituições democráticas e impedir a alternância legítima de poder. A ministra destacou que os atos foram “pensados e executados para uma radicalização social e política que adensa o ambiente de instabilidade política”.
Ela também rejeitou as alegações das defesas de cerceamento de direitos e de que o STF não seria o foro adequado para julgar o caso. Segundo a ministra, os fatos apresentados pela PGR “não foram negados na sua essência”.
Além disso, Cármen Lúcia votou pela validade da delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, cuja colaboração foi considerada essencial para a comprovação da trama.
Formação da maioria
Com o voto de Cármen Lúcia, o placar ficou em 3 a 1 pela condenação de Bolsonaro e dos demais réus. Alexandre de Moraes, relator do caso, e Flávio Dino já haviam votado pela condenação. Luiz Fux, por outro lado, votou pela absolvição de Bolsonaro e de cinco réus, mantendo a condenação apenas de Mauro Cid e Braga Netto.
O último voto será do presidente da Primeira Turma, Cristiano Zanin, mas mesmo que ele vote pela absolvição, a maioria pela condenação já está formada.

Ministra Cármem Lúcia – STF.
Implicações políticas e jurídicas
A condenação de Bolsonaro por organização criminosa pode resultar em pena de até 43 anos de prisão, caso seja condenado por todos os crimes e considerados os agravantes. O ex-presidente está atualmente em prisão domiciliar e nega todas as acusações, alegando que estava nos Estados Unidos durante os ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
O julgamento também reacende o debate sobre uma possível anistia para Bolsonaro e seus aliados, proposta por setores da base bolsonarista no Congresso. A tensão entre o STF e esse grupo político se intensifica, especialmente diante da possibilidade de novas condenações em ações correlatas.
Um voto com peso histórico
O voto de Cármen Lúcia não apenas definiu o rumo do julgamento, mas também reforçou a posição do STF como guardião da ordem constitucional. Ao afirmar que “plantar desconfiança na política é muito mais fácil do que semear confiança”, a ministra sinalizou a gravidade dos ataques às instituições e a necessidade de responsabilização.
A decisão da Primeira Turma será seguida pela dosimetria das penas, que deve considerar o grau de envolvimento de cada réu. A expectativa é que essa etapa ocorra até o fim da semana, encerrando um capítulo decisivo na história política e judicial do país.
Contato
- Atendimento
- (41) 999-555-006
-
Av. do Batel, 1750 – S215
Curitiba – PR