Sanções dos EUA contra envolvidos no Mais Médicos reacendem tensões diplomáticas
Em um movimento que reacende tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, o Departamento de Estado norte-americano anunciou, ontem (13 de agosto), a revogação de vistos e a imposição de restrições a dois ex-integrantes do Ministério da Saúde brasileiro e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). A medida foi motivada pela acusação de que os envolvidos teriam colaborado com um suposto esquema de exportação coercitiva de mão de obra médica cubana por meio do programa Mais Médicos.
Quem são os alvos das sanções?
Os principais nomes citados foram:
- Mozart Julio Tabosa Sales, atual Secretário de Atenção Especializada à Saúde, conhecido como um dos criadores do programa.
- Alberto Kleiman, ex-diretor de Relações Internacionais do Ministério da Saúde e atual coordenador da COP30 pela Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).
Ambos participaram do planejamento e implementação do Mais Médicos entre 2012 e 2015, período em que o programa contou com forte presença de médicos cubanos, enviados ao Brasil por meio de convênio com a Opas.
O que é o programa Mais Médicos?
Criado em 2013 durante o governo Dilma Rousseff, o Mais Médicos tinha como objetivo ampliar o acesso à saúde em regiões carentes, especialmente no interior do país e em comunidades indígenas. O programa foi estruturado em três eixos:
- Provimento emergencial de médicos
- Melhoria da infraestrutura das Unidades Básicas de Saúde (UBS)
- Formação médica e expansão de vagas em cursos e residências.
A parceria com Cuba, mediada pela Opas, permitiu que milhares de médicos cubanos atuassem no Brasil. Em 2015, cerca de 60% dos 18 mil profissionais do programa eram cubanos.
Acusações dos EUA
Segundo o comunicado oficial, os Estados Unidos consideram que o programa envolveu práticas de trabalho forçado, com o governo cubano retendo parte dos salários dos médicos e utilizando a Opas como intermediária para burlar sanções americanas. O secretário de Estado Marco Rubio, de origem cubana, afirmou que a medida visa responsabilizar aqueles que “enriqueceram o regime cubano corrupto” e “privaram o povo cubano de cuidados médicos essenciais”.

As sanções incluem:
- Revogação de vistos dos envolvidos e seus familiares
- Proibição de entrada nos EUA
- Reforço de medidas contra regimes autoritários que exploram trabalhadores médicos
Reações no Brasil
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, saiu em defesa do programa e dos profissionais punidos. Em nota, afirmou que o Mais Médicos “salva vidas” e “sobreviverá aos ataques injustificáveis de quem quer que seja”.
Já o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em viagem a Washington, celebrou a decisão como um “recado” de que nem ministros nem burocratas estarão imunes a punições por colaboração com regimes autoritários. Ele também sugeriu que outras autoridades brasileiras, como o ministro Alexandre de Moraes, poderiam ser alvo de futuras sanções.
Contexto internacional e impacto político
As sanções contra o Brasil se somam a medidas semelhantes aplicadas a autoridades de Cuba, Granada e países africanos. A decisão marca mais um capítulo da política externa agressiva do governo Trump, que desde julho vem impondo tarifas e restrições a autoridades brasileiras.
Internamente, o episódio reacende o debate sobre a legalidade e a ética da parceria com Cuba. Críticos apontam que os médicos cubanos recebiam apenas uma fração dos salários pagos pelo Brasil, enquanto defensores destacam os avanços na cobertura médica em áreas vulneráveis.
O futuro do programa
Após o fim do convênio com Cuba em 2018, o governo Bolsonaro lançou o Médicos pelo Brasil, priorizando profissionais nacionais. Em 2023, o governo Lula retomou a marca “Mais Médicos para o Brasil”, com foco em médicos formados no país. Atualmente, os dois programas coexistem, somando mais de 25 mil profissionais em campo.
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