EUA vai desligar GPS no Brasil?
A especulação de que os Estados Unidos poderiam cortar o sinal de GPS no Brasil surge em meio a uma escalada de sanções anunciadas pelo presidente Donald Trump, incluindo aumento de tarifas e revogação de vistos a autoridades brasileiras. Embora parte dessas medidas faça parte da retórica de retaliação política, a viabilidade técnica de “desligar” o GPS para um único país é altamente contestada.
Como funciona o GPS
O Sistema de Posicionamento Global (GPS) é composto por uma constelação de satélites sob controle do Departamento de Defesa dos EUA. Cada satélite transmite um sinal de rádio com a sua posição e horário exato, baseado em relógios atômicos. Receptores na Terra calculam sua localização a partir da diferença entre o tempo de emissão e de recepção desses sinais. São necessários dados de ao menos quatro satélites para triangular com precisão latitude, longitude e altitude.
É possível bloquear o GPS apenas no Brasil?
Especialistas afirmam que o GPS transmite sinais globalmente e de forma unidirecional, sem segmentação por fronteiras. Para bloquear o sinal apenas no Brasil, seria necessário alterar a forma de transmissão de todos os satélites, o que impactaria outras regiões e até os próprios EUA. Por isso, considera-se improvável “desligar” o GPS seletivamente para um único país sem causar grandes interrupções globais.
Técnicas de interferência e o fim
da disponibilidade seletiva
Embora seja improvável cortar o GPS globalmente para o Brasil, existem métodos de interferência local:
- Jamming: emissão de ondas de rádio na mesma frequência do GPS para neutralizar o sinal. Exige proximidade ao alvo e afeta todos os receptores na área de alcance, caracterizando sabotagem.
- Spoofing: transmissão de sinais falsos para enganar receptores, fazendo-os calcular coordenadas erradas.
Até os anos 2000, os EUA podiam degradar propositalmente o GPS civil por meio da “Selective Availability” (SA), limitando sua precisão em regiões específicas. Em maio de 2000, o presidente Bill Clinton encerrou a SA, tornando permanente a disponibilidade global e gratuita do sinal para usuários civis. Desde então, não há mais função oficial de degradar o sinal civil, tornando ainda mais remota qualquer tentativa de bloqueio por parte dos EUA.
A ameaça política de Trump
As notícias sobre o bloqueio do GPS surgem dentro de um conjunto de sanções em estudo na Casa Branca, que inclui elevação de tarifas de 50% para até 100% sobre produtos brasileiros e punições em parceria com a Otan. Parte dessas retaliações está diretamente ligada à decisão do STF que impôs medidas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Embora aliados políticos alimentem a hipótese de corte de sinal, a medida é considerada extrema e de aplicação duvidosa, servindo mais como instrumento de pressão política do que como ação prática de inteligência militar.
Alternativas ao GPS americano
Para mitigar riscos de interferência no GPS, diversos sistemas de navegação por satélite (GNSS) oferecem cobertura global ou regional:
- BeiDou (China): constelação com 35 satélites e cobertura global. Integrado a smartphones e serviços como Baidu Maps e Amap, já rivaliza com o GPS em precisão e autonomia tecnológica chinesa.
- GLONASS (Rússia): sistema operacional desde os anos 1990, compatível com receptores modernos e com estações de controle em solo, incluindo unidades no Brasil, garantindo cobertura global e redundância de sinais.
- Galileo (União Europeia): rede de satélites de alta precisão, especialmente em ambientes urbanos. Oferece serviço civil gratuito e interoperável com GPS e GLONASS, ampliando resiliência em caso de falhas de um único sistema.
Além desses, existem sistemas regionais como o NavIC (Índia) e o QZSS (Japão), que podem ser usados em conjunto para fortalecer ainda mais a autonomia de posicionamento.

Até o momento a ameaça de desligar o GPS no Brasil é fruto de especulações em redes sociais. Poderá ser concretizar?
Como usar o BeiDou no Brasil
- Verifique se seu dispositivo (smartphone, tablet ou receptor GNSS) suporta múltiplos sistemas (multiconstelação).
- Acesse as configurações de localização ou GPS do aparelho.
- Ative o modo “GNSS” ou “multissistema”, habilitando BeiDou, além de GPS, GLONASS e Galileo.
- Reinicie o aplicativo de mapas ou software de georreferenciamento para que o receptor capte sinais das diversas constelações simultaneamente.
Com isso, seu equipamento alternará automaticamente entre satélites dos diferentes sistemas, garantindo maior precisão, disponibilidade e resistência a interferências.
Mesmo que o bloqueio do GPS no Brasil pelo governo dos EUA seja amplamente considerado improvável do ponto de vista técnico, é fundamental diversificar o uso de sistemas de posicionamento global. A adoção de BeiDou, GLONASS, Galileo e outras constelações já consolidadas fortalece a soberania tecnológica e reduz vulnerabilidades a pressões políticas estrangeiras.
Prejuízos imediatos também para os EUA
Embora a política anunciada por Donald Trump tenha como justificativa a proteção da economia americana, a ameaça de bloqueio do GPS no Brasil revela um desvio de propósito com consequências bilaterais graves. Além de ser tecnicamente controversa e juridicamente questionável, a medida atingiria diretamente empresas dos próprios Estados Unidos que operam em território brasileiro.
Serviços como Uber, aplicativos de entrega, plataformas de e-commerce e companhias aéreas dependem fortemente da navegação por satélite para logística, segurança e rastreamento de trajetos. Estimativas indicam perdas mensais que ultrapassam US$ 250 milhões, com interrupções operacionais, aumento de falhas de localização e impactos na confiança do consumidor. Ao comprometer setores estratégicos, a política arrisca enfraquecer cadeias comerciais essenciais e prejudicar a própria imagem de previsibilidade econômica dos EUA.
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