BRICS: Esvaziamento ou contingências
A cúpula do BRICS se reuniu hoje, no Rio de Janeiro, parte da imprensa nacional e internacional destacou a ausência de líderes importantes como um indicativo de enfraquecimento do bloco. No entanto, uma análise mais profunda revela que essas ausências se devem, em grande parte, a contextos específicos de cada país — e não a uma crise de legitimidade da organização.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não comparecerá ao encontro devido a um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), relacionado à guerra na Ucrânia. Como o Brasil é signatário do Estatuto de Roma, haveria uma obrigação legal de detê-lo caso ele viesse ao país. Para contornar a situação e manter a participação russa, Putin participará da reunião por videoconferência, enquanto o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, representará o país presencialmente. A ausência, portanto, é de ordem jurídica, não política.
No caso da China, o presidente Xi Jinping optou por não comparecer, mas enviou o primeiro-ministro Li Qiang como representante. Embora o governo chinês não tenha divulgado publicamente o motivo da ausência de Xi, analistas apontam que questões internas e tensões internacionais podem ter pesado na decisão. Mesmo assim, a presença de Li indica que a China segue comprometida com a agenda do BRICS.
O Irã, recém-incorporado ao bloco, também estará ausente em razão de seu cenário interno e externo. O país foi alvo recente de bombardeios de Israel e dos Estados Unidos, o que dificultaria a segurança do deslocamento do presidente Masoud Pezeshkian, recém-eleito. A situação delicada justifica sua ausência na cúpula.
Já o Egito, outro novo integrante do BRICS, será representado por sua delegação diplomática. O presidente Abdel Fattah al-Sisi decidiu permanecer no país para acompanhar de perto as negociações de cessar-fogo em Gaza, tema de alta prioridade para o governo egípcio. Em um momento de tensão no Oriente Médio, a permanência do presidente no Cairo é vista como compreensível e estratégica.
Apesar dessas ausências de peso, os países em questão enviaram representantes de alto escalão para participar das discussões, o que reforça o comprometimento com o bloco. Além disso, o grupo conseguiu superar dois impasses relevantes na formulação do comunicado conjunto que será divulgado ao final da cúpula: o posicionamento do Irã sobre o conflito entre Israel e Palestina e a reforma do Conselho de Segurança da ONU.

Com relação ao primeiro ponto, o Irã cedeu à pressão do grupo e aceitou a inclusão de uma menção à solução dos dois Estados, como forma de superar o conflito no Oriente Médio — ainda que essa postura contradiga, em parte, posicionamentos históricos de Teerã. No segundo ponto, o Brasil obteve apoio de China e Rússia à sua aspiração por um assento permanente no Conselho de Segurança, um reconhecimento diplomático importante para o Itamaraty.
A presença de líderes e representantes de organizações multilaterais, como a Organização Mundial da Saúde, a Organização Mundial do Comércio e as Nações Unidas, reforça o peso geopolítico do BRICS, especialmente num contexto em que o bloco busca se consolidar como alternativa às estruturas tradicionais lideradas pelo Ocidente.
Portanto, embora a ausência de chefes de Estado tenha impacto simbólico, os fatos demonstram que o BRICS continua operante e ambicioso. A continuidade das negociações, o envio de representantes relevantes e a superação de impasses internos revelam um bloco em amadurecimento, não em declínio. A narrativa de esvaziamento pode não resistir a uma análise mais cuidadosa dos acontecimentos.
Temas importantes estão sendo superados na reunião e deverá gerar uma declaração final de compromissos e resoluções após o término do evento. É este documento que interessa, pois os países participantes, com seus governantes ou representantes, assinam este documento e som ele se comprometem.
Outra compreensão importante é que os temas mais tensos a serem discutidos, claramente apresentam circunstâncias que precisam de negociações, por isso se reúnem. Se todos só concordassem, não seria preciso se reunir. É a capacidade de superar estas diferenças e atuar como um bloco, que dá maior poder aos países do BRICS.
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