Exército Brasileiro faz acordo para conseguir funcionários para supermercados
A inédita aliança entre a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e o Exército Brasileiro quer canalizar jovens egressos do serviço militar obrigatório para as 350 mil vagas abertas no setor supermercadista. Mas, além de resolver um gargalo de mão de obra, a iniciativa ecoa debates sobre perfil profissional, educação militar e o tipo de classe trabalhadora que estamos moldando.
1. Por que nasceu o acordo?
– Crise de atração: salários de R$ 1.500–2.200, turnos fixos e fins de semana têm afastado jovens e pessoas mais velhas.
– Concorrência informal: apps de entrega e bicos autônomos puxaram potenciais colaboradores do varejo.
– Automação parcial: sistemas de self-checkout reduziram algumas vagas, mas não compensaram o déficit.
– Oferta rara de talento: cerca de 350 mil posições ociosas em todo o país.
2. Principais pontos do convênio
1. Mapeamento psicossocial
– Uso de avaliações já aplicadas no quartel (liderança, resiliência, trabalho em equipe), com consentimento.
2. Banco de talentos anônimo
– Exército e Abras compartilham perfis alinhados a funções de atendimento, logística e segurança.
3. Programa de treinamento
– Módulos de soft skills e gestão de estoque em 40 h, ministrados em polos de integração emprego–quartel.
4. Estágios e efetivações
– Até seis meses de estágio com incentivos fiscais propostos para cada contratação definitiva.
5. Apoio psicossocial
– Psicólogos militares farão acompanhamento semestral para reduzir turnover e adaptar o jovem ao ambiente civil.
Inspirações globais
EUA: DoD SkillBridge
Permite que militares transitem para estágios remunerados em empresas renomadas (McDonald’s, Amazon, Microsoft) sem perder benefícios federais. Já formou mais de 50 000 participantes e trouxe redução de até 20% no turnover de veteranos.
Reino Unido: JointForces@ISS
Desde 2017, conecta veteranos e cônjuges da ativa a vagas em limpeza, facilities e logística, com mais de 80% de efetivações bem-sucedidas.
Como funciona em fast-food e outros setores
– McDonald’s Veterans Network e Burger King Courage Program testam roteiros exclusivos para ex-militares, com foco em liderança de loja e logística.
– Desafios: ritmo intenso exige suporte psicossocial extra para evitar esgotamento físico e mental.
Ex-militares no mercado brasileiro
– Segurança privada: queda de 25% nos incidentes quando supervisionados por veteranos.
– Logística e transporte: planejamento e disciplina do quartel se encaixam em centros de distribuição.
– TI e engenharia: técnicos em comunicações migrando para tecnologia civil.
– Saúde e emergência: socorristas e técnicos de enfermagem formados em primeiros socorros.
– Caso João Pessoa: de 150 indicados pelo 1º Grupamento de Engenharia, 94 foram contratados por um home-center—30 ficaram em lista de reserva.

O futuro do soldado brasileiro pode estar no supermercado.
Impactos sociais
– Mobilidade salarial contida, ao aceitar hierarquia em troca de previsibilidade.
– Menor disposição a mobilizações sindicais, foco em “deveres” e não “direitos”.
– Risco de aprofundar desigualdades regionais e de acesso, já que colégios e quartéis não estão distribuídos uniformemente.
Controvérsias e desafios
– Privacidade de dados: uso de informações sensíveis, ainda que anonimizadas.
– Militarização do trabalho civil: cultura hierárquica rígida em ambientes que exigem empatia.
– Estigma interno: colegas civis podem enxergar ex-soldados como “tropa de choque”.
– Desigualdade de oportunidades: regiões com menos presença militar ficam de fora.
Consequências e os próximos passos
– Redução de vagas ociosas: expectativa de queda de até 15% no déficit até o fim de 2025.
– Maior retenção: disciplina militar tende a segurar o colaborador por mais tempo.
– Modelo replicável: transporte, energia e outros setores já avaliam acordos similares.
– Comitê tripartite em agosto (Abras / Exército / Ministério do Trabalho) para fiscalizar uso de dados psicossociais e protocolos de confidencialidade.
– Testes de jornada flexível: contratações por hora para atrair perfis diversos.
As mudanças no mercado de trabalho e a busca de novos caminhos pelas indústrias, comércio e serviços é reflexo do momento político e econômico de cada país e também das políticas do governo atual. Estas buscas são legítimas e a adesão a estas políticas devem ser sempre voluntária. Neste caso específico, o trabalhador está com vantagem, pois há oferta de vagas e escassez de mão de obra. As empresas sabem como jogar com o mercado. Agora esperamos que os trabalhadores também possam responder da melhor forma.
Reflexão profunda
Colégios militares e o “novo trabalhador”
A expansão dos colégios militares: de 15 unidades em 2020 para mais de 50 em 2025, o modelo insiste em uniformes, hierarquia rígida e avaliações de “cidadania”.
Que classe trabalhadora surge?
– Obediência em vez de autonomia: cumpre ordens, raramente propõe melhorias.
– Conformismo produtivo: altos índices de pontualidade, pouca voz para contestar processos.
– Dificuldade de adaptação: setores dinâmicos pedem autonomia e flexibilidade, nem sempre encontradas no perfil militar.
– Coletividade organizada: afia trabalho em equipe padronizado, ideal para redes de franquias.
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